Swami Ashokananda
A palestra Espiritualizando a Vida Diária foi proferida e gravada na manhã de domingo de 24 de novembro de 1957, na Sociedade Vedanta da Califórnia do Norte, templo antigo, São Francisco.
No último domingo falei sobre o tema adoração – o que é e como realizá-la. Em conexão com o assunto, disse muito brevemente que, se alguém não se sente inclinado a adorar Deus de forma cerimonial, existe outro tipo de adoração: a adoração de Deus no homem. Tenho a intenção de falar sobre esse tipo de adoração nesta manhã, e, relacionado a isso, penso que deveria fazer, não exatamente uma confissão, mas algumas afirmações de prefácio.
Não estou tentando dizer que a prática de adoração ritualística não é necessária. Algumas dessas práticas são universalmente necessárias. Quero dizer, no entanto, que esse não é o único tipo de adoração. Existe um outro tipo que eu, pessoalmente, prefiro. Claro, gosto de todas as formas de práticas espirituais, todas as formas de adoração; não encontrei nenhum conflito entre elas, mas penso que se é permitido gostar de uma mais do que outra; e a adoração de Deus no homem é um ritual, se assim o posso dizer, mais próximo de meu coração que qualquer outro tipo de prática ritualística. Veja bem, antes de tudo, sou intelectual por natureza, e na tentativa de ser filosófico, tenho visto que esse tipo de prática é uma conseqüência natural do tipo mais elevado de filosofia na Vedanta.
Swami Vivekananda costumava definir a aplicação da Vedanta em sua forma mais elevada como ‘Vedanta Prática’. Algumas vezes penso que esse ensinamento, se não era o central, era muito próximo do ensinamento central de Swami Vivekananda. Penso que esse ensinamento central era - a divindade do homem. O homem, segundo ele, é perfeito por natureza, infinito e eterno, agora e sempre. Ele queria que cada pessoa se tornasse consciente de sua natureza espiritual e divina; assim, pensou ser essa a mais importante meta para o homem desta época, tanto do Ocidente como do Oriente. O próximo ensinamento mais importante, assim penso, é a adoração de Deus no Homem.
Analise comigo, é uma conseqüência natural que, se considero minha própria natureza como divina, devo também considerar sua natureza como divina. Não poderia dizer que sou divino e você é meramente humano ou animal; isso seria logicamente uma contradição. Todos são divinos, e se tivermos esse sentimento em nossa condição atual, onde ainda temos um sentimento de relacionamento exterior, nossa atitude para com os outros seres será de adoração. Claro, quando ficar imerso na consciência da unidade com Deus, você vai perder a noção de interior ou exterior. Nesse estado muito elevado e inarticulado, onde não existe pensamento, nem movimento, nada, não há sentido de pluralidade, e a prática de considerar os outros como divinos não é aplicável. Mas, enquanto for consciente de qualquer outra pessoa existindo além de você – e nesse estado comum estamos conscientes de um número infinito de seres existindo no mundo exterior – então, com a convicção filosófica de que todos são de fato divinos, a única atitude verdadeira a ser mantida para com os outros é a atitude de adoração.
E se você estiver realmente consciente da existência da divindade em outra pessoa, verá que todo o seu ser quer prosternar-se em reverência àquela pessoa. Se você é realmente Deus ou não, esta não é a questão. Existe um fato psicológico sutil a ser levado em consideração: se te considero como Deus, se olho para ti e torno-me consciente de que és divino, que não és homem comum mas o próprio Deus – se tenho essa consciência, serei consciente somente de ti. Devemos notar esse ponto. E qual indivíduo, estando desperto para a presença da divindade diante dele, poderia permanecer imóvel? Quem falharia em sentir profundo sentimento de reverência e adoração? Esse sentimento de reverência é que vai compelir-te a realizar auto-sacrifícios, a prestar aos outros homenagem, a fazer-lhes o que for a ti possível.
